16 junho 2013

O Sonho de Isabella. O Final

─ISABELLA!!!
Isabela acordou como se alguém lhe gritasse o nome. Milhares de sinos tocavam em seus ouvidos machucados e sua cabeça latejava. Uma senhora estava aos pés da cama com um vestido em mãos aguardando ela se levantar. Nem perante a senhora tinha coragem de se expor, estava completamente nua. Envergonhada esticou a mão pedindo o vestido, mas a senhora não entregou. Depositando a roupa ao lado pegou sugeriu que Isabela a seguisse.
─ Para onde vamos? Que horas são? ─ perguntou Isabella encabulada.
─ Esses Italianos com sua língua engraçada ─ resmungou a velha senhora em inglês.
─Para onde vamos? Que horas são? ─ perguntou novamente agora num inglês perfeito.
A mulher olhou-a entre surpresa e confusa. Mas resolveu responder a questão.
─ A menina decididamente necessita de um banho antes que Vossa Graça retorne. Ele já mandou avisar que estará aqui em breve para almoçar com a senhorita, eu ia apenas vesti-la e penteá-la, mas quando percebi os lençóis, percebi também que precisava de um banho. São exatos uma e quinze da tarde.
─ Eu preciso de alguém que me leve embora. Eu necessito voltar pra minha casa. O duque com certeza tem mais coisas a fazer do que almoçar com uma simples garota como eu e alguém deve estar me procurando.
─ Deixe de tolice, se ele a considerasse apenas uma simples garota ele certamente a teria mandado embora quando saiu. Ele gostou de você menina. Até lhe emprestou uma roupa que pertenceu á sua mãe. Com certeza será a escolhida dele. Faz tempo que ele não toma uma amante fixa, mas acho que mudou de idéia com você. Ele vai trazer para a senhorita muitas jóias e finos perfumes, e vai lhe dar o suficiente para que mesmo quando ele resolver acabar com o relacionamento você possa ser rica e viver confortavelmente para sempre. Agora afunde nessa água e lave-se.
Amante. Aquela palavra soou como uma faca lhe rasgando. O que fizera? Anos e anos escondida, pra ter um futuro melhor que o de sua mãe e acabara como ela. Primeiro serviria ao duque. Depois a quem mais? Até acabar sendo uma párea na sociedade. Onde em determinados lugares não poderia nem passar sem ser motivo de comentários. Olhou se num espelho de mão que se encontrava numa banqueta ao lado da tina. Era muito parecida com sua mãe. Talvez por isso Deus tivesse lhe dado o mesmo destino. Mas não poderia mentir pra si mesma e dizer que estava encantada e talvez até apaixonada pelo Duque. Desde o instante em que o vira sentira essa atração. Ele a pedira em casamento, recusara. E agora seria sua amante. Melhor assim. Iria desaparecer das vistas italianas e futuramente talvez fosse para o novo mundo. Diziam as línguas boas e más que os americanos eram um povo tolerante. Uma mudança poderia ser bem-vinda num futuro próximo ou não. Seria a amante de Albany e depois se aventuraria pelo mundo. Se ele não partisse o seu coração primeiro.

Humberto olhou para a mesa de refeições e viu que algo estava errado. Sentiu as mãos tremerem ao tentar levar mais uma colher da sopa aos lábios. Sentira mesmo um gosto amargo ao provar a sopa, mas nada que realmente o incomodasse no momento. Respirar se tornara muito difícil e agora percebia sua visão turva. Estava morrendo, podia sentir pela espuma saindo de sua boca. Fora infantil em confiar demais em determinadas pessoas. Alguém gritou e várias pessoas estavam ao redor dele no chão. Quando foi que caíra? Não estaria vivo para ver Isabella se casar. Não poderia abraça-la como os pais faziam com suas filhas. Como desejara ser só um rapaz normal, livre de tantas responsabilidades, ser o pai que Isabella merecia. Liana que sofrera tanto ao ter a filha e ter que abandona-la. E antes dela, os dois abortos que a obrigaram a fazer, para que o rei não tivesse ninguém a brigar pelo seu trono. Liana e Isabella eram as mais prejudicadas, uma por não ter um pai de verdade, outra por ser o amor da vida de um rei que não poderia amar. Quantas coisas passavam pela cabeça de um homem à beira da morte. Sentiu ela suspirando em seu ouvido, talvez Deus trouxesse paz junto à mulher amada em outra vida.
─ Liana.
As últimas palavras do rei antes de desfalecer. Sem perceber que em torno dele a pergunta feita fora “Quem seria capaz de atentar contra o rei?”
A rainha mais que exaurida começou a gritar!!
─ Vocês ouviram, aquela vadia quis se vingar e o envenenou! Prendam-na eu exijo a cabeça dela em uma bandeja!
O rei não estava morto. Os médicos estavam tentando de tudo para não deixar que o veneno tomasse a vida do monarca. A rainha dera as ordens e logo estavam à procura de Liana. E aquele era somente um carnaval em Veneza...

Isabella sentia-se perdida entre sonho e realidade. Um pesado anel de safiras em seu dedo anelar esquerdo pra ela tinham o significado de “fui comprada”. Mas os olhos de Joseph eram uma tentação que agora seriam seus. Esperava que por um longo tempo.
─ Prometi à sua mãe que a levaria pra casa às quatro.
Isabella gelou. Jamais poderia olhar para os tios novamente sem sentir remorso pelo que fizera. Os tios sempre foram coniventes com suas travessuras mas sempre repudiaram a mãe pelo que ela era. Não poderia voltar. Não poderia olhar aqueles olhos novamente e verem eles a desprezarem.
─ Prefiro partir daqui.
─ Partir daqui? Sem voltar pra casa? ­─ Joseph não entendera.
─ Você disse que me levaria à Londres. Eu falo inglês perfeitamente pode perguntar à sua criada. E eu desejo ir imediatamente se possível. Afinal já são cinco da tarde mesmo.
─ Percebi o adiantado da hora é que me atrasei e você estava tão linda me esperando...
─ Quando podemos ir? E já que você falou com minha mãe, eu gostaria que ela mandasse minhas coisas. Roupas, jóias e livros, não acho que ela vai se importar em faze-lo.
─ Não quer ver sua família antes de ir?
─ Sinceramente não acho que eles queiram me ver após o que aconteceu.
─ Sua mãe me informou que estavam todos muito preocupados com você.
─ Isso é porque ainda não sabem que me tornei sua amante. ─ ela não segurou dessa vez, chorou sem pensar. Joseph a abraçou.
─ É por isso Bella? Eu fui um estúpido com você minha princesa. Você não será minha amante. Será minha duquesa. E não estou fazendo isso porque eu a deflorei, nem porque eu estive com sua família e eles me obrigaram. Estou fazendo isso porque me encantei com seus olhos. Lindos olhos azuis como safiras. Acho que lhe amo duquesa. Sempre achei que me apaixonaria por alguém um tanto diferente de você.
─Diferente como? E ainda não sou sua duquesa, muito menos princesa. Ainda nem aceitei esse pedido de casamento, alias você pediu?
─Hummm muitas perguntas. Não pedi porque estou acostumado a dar ordens, e você o aceitou quando coloquei o anel que foi de minha mãe em seus dedos, ela tinha uma coleção de anéis com pedras de todas as cores, era a única jóia que usava, portanto meu pai deu a ela vários anéis, serão todos seus se assim gostar, achei esse ideal pois combina com seus olhos. Tenho uma atração por mulheres miúdas e loiras. Você é morena e alta para o padrão londrino, ainda assim é baixa perto de mim. Esses incríveis cabelos negros estavam escondidos naquela peruca loira quando te vi, e apesar do baile ter sido de mascaras confesso que gosto mais de você assim na minha cama. Perfeita e natural. ─ ele a beijou. ─ e se assim preferir posso mandar celebrar nosso casamento em Londres, algo bem particular. Chamamos seus tios e sua mãe e só.
─Minha mãe jamais iria ao meu casamento para não me expor como filha da concubina mais falada de toda a Europa.
─ Mais um motivo para eu fazer um casamento á portas trancadas. Sua mãe poderia ir. Meus convidados são só Humberto, meu advogado e meu primo. Mas ele sempre viveu em zona rural e não reconheceria sua mãe.
─Você faria isso por mim? ─ perguntou ela emocionada
─ Faria por nós dois Bella. Eu não sou uma pessoa de muitos amigos.
Isabella foi beijada... uma... duas... perdeu a conta e a cabeça nos braços de seu duque.

Joseph acordou e viu que era noite, alguém batia insistentemente na porta de seu quarto. Isabella estava sentada na cama ao seu lado.
─Cubra-se. É apenas meu criado.
Ela não pensou duas vezes e cobriu-se até a cabeça.
─Entre. ─ ordenou Albany.
Isabella percebera a diferença no falar. Era como seus tios. A entonação de voz mudava perante um criado.
─ Desculpe-me atrapalhar Vossa Graça mas a família da senhorita Isabella está toda reunida em seu salão. Eles exigem sua presença e a da senhorita também.
Praguejando Joseph se levantou e começou a se vestir. Isabela fez o mesmo.
─ Continue deitada Bella. Posso resolver isso sozinho e sem nenhum tipo de constrangimento pra você.
─ Ver você falando assim prova que não conhece minha família. Tem um roupão pra me emprestar? Creio que você precisa parar de rasgar minhas roupas ou ficarei sem nenhuma.
Rindo ela se enrolou no roupão dele que a cobria por completo. Prendeu precariamente o cabelo com alguns grampos e desceu.
Lorenzo olhou para o casal e teve a certeza pela primeira vez que Isabella estaria bem. Quando a mensagem de Liana chegara à sua casa, tivera dúvidas quanto a sanidade mental de sua cunhada ao dizer que Isabella estava protegida pelo duque. Agora vendo-os, ela com expressão de felicidade e um pouco receosa de encarar a família e ele pronto para atacar qualquer um que ousasse recrimina-la, soube exatamente que sua Bella estava segura.
─Pode ficar tranqüila Bella, pois não vim para recrimina-la, após receber o recado de Liana que se encontrava aqui só viemos saber se está bem.─ informou Lorenzo.
Bella saiu detrás do duque e foi beijar a tia e a prima que também se encontravam no salão.
─Eu havia prometido a Liana que a levaria pra casa às quatro mas Isabella não quis ir. ─ explicou Albany a Lorenzo.
─ Dadas as circunstancias eu acho melhor não mesmo. Isabella corre um grande risco em nossa casa e esse é só mais um motivo para eu estar aqui.
─Sabe que em menos de uma semana ela será minha esposa não sabe.
─ Temo que isso não será possível Albany.
─ Mato pessoalmente qualquer pessoa que tentar me impedir.
Rindo Lorenzo apertou o ombro do homem que teria a sorte de levar sua sobrinha ao altar.
─ Calma homem. Como eu disse dadas as circunstancias, eu e Humberto providenciamos para que isso aconteça agora. Como você é protestante e Deus me defenda de todos vocês com suas idéias novas sobre Deus, está vindo aí um bispo para realizar o casamento de vocês ainda hoje. Não seria adequado minha sobrinha se casar de roupão, portanto gostaria que ela subisse para se trocar se não se importa.
─ Que circunstancias você está se referindo?
─Por Deus homem! Você não sabe? Humberto foi envenenado, não tomou quantidade de veneno suficiente por isso está bem, os médicos o socorreram a tempo. Mas a rainha acusou Liana e sentenciou sua morte. Eu fui chamado por Humberto junto com mais dois agentes do serviço secreto para executarmos algumas missões. Ninguém além de nós e o bispo que estará presente aqui que Humberto está bem. Hoje as dez da noite temos como dever forjar a morte de Liana. Esperamos que ela consiga estar aqui para o casamento da filha, pois depois disso ela irá para a América e não retornará nunca mais a Itália ou qualquer parte da Europa. O rei suspeita que a rainha o envenenou por ciúmes de Liana, portanto Isabella corre risco, então forjaremos a morte de Isabella também. Como a rainha nunca viu o rosto de Isabella, não saberá que a moça morta não é ela. Já com Liana teremos que cremar o corpo.
─ Por Deus!! Mas que corpos serão usados para forjar essas coisas?
─ Por sorte é carnaval. Uma cigana morreu de sífilis e por ser morena diremos a rainha que é Isabella. Um rapaz quebrou o pescoço ao cair da gôndola bêbado e como ele não tem família usaremos o corpo dele cremado para dizer que é Liana.
─ Bem acho que tenho que me vestir adequadamente para meu casamento também não? Isabella já subiu com a tia.
─ Não sei como o bispo ainda não chegou já são quinze para as dez.
─ Tão tarde? Pena a cozinheira não ter preparado um bolo para Bella.
─ Não se preocupe. Maria e Eugênia passaram em uma confeitaria no caminho e trouxeram um bolo cor de rosa. Acha que sua cozinheira pode servir mais alguns pratos na ceia?
─ Não tenho dúvidas. Em Londres costumava voltar do carteado com muitos colegas de jogo. Era sem aviso e minha cozinheira nunca os deixou sem comida. Avise-a por favor quantos virão Lorenzo. Sinta-se em casa. Afinal em poucas horas seremos da família.

Era quase meia noite quando o bispo terminou de realizar o casamento.
─E pode beijar a noiva! ─ declarou ele.
Isabella sentiu os olhares da família enquanto Joseph roçava seus lábios de leve. Eugênia havia trazido um vestido lindo que sua mãe havia mandado fazer a poucos dias e ainda não usara. Era de um tom prateado com lindas flores vermelhas em seu corpete e um saiote que parecia mudar de cor quando se mexia. Um véu acetinado tinha sido preso aos seus cabelos com um diadema de brilhantes. Estava linda. Começou a abraçar a família até chegar em sua mãe. Vestida como homem e com os cabelos bem curtos pronta para viajar. Seu tio explicara o que houve e outras explicações foram dadas. Ao lado de sua mãe o rei de toda a Itália esperava para beijar a noiva. Seu pai. Imaginara tantas vezes o rosto dele. Todas as vezes que passava um homem de cabelos escuros na rua de sua casa ficava imaginando se não seria ele o seu pai. Sem saber que sempre o conhecera e nunca o conhecera realmente. Ele ainda estava abatido. Beijou-a e desejou sorte a ela e Joseph. Isabella sonhara diversas vezes com sua vida, com liberdade, com amores. E nunca sonhara com tanta perfeição como a que via agora na mesa da ceia de seu casamento. Era uma mulher feliz. Sonhos podiam se tornar reais bastava acreditar...



FIM

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