16 fevereiro 2013

O Sonho de Isabella - Capítulo 2



                Nada passava despercebido pelos atentos olhos de Isabella. A música era alegre e tudo ali parecia mágico. A tia lhe dera ordens específicas de comportamento, a prima lhe instruíra diferente:
                − Mamãe sempre vai dizer para nos comportarmos, mas a verdade é que temos que nos divertir ao máximo. Você pode aproveitar e beijar quem você quiser, mas cuidado com cantos muito escuros e não os deixe enfiar as mãos por suas saias.
                − Prefiro não me arriscar a ter a fúria de ninguém sobre mim, ainda lembro quando fui pega com Ricardo no estábulo.
                − É diferente agora. Você já é mulher feita. E sabe bem o que acontece com um homem e uma mulher. Li seus livros o suficiente para saber que você sabe em detalhes.
                − Como sabe desses livros? Não são meus, são da minha mãe, mas sim, eu os li. Tia Maria não presta muita atenção no tipo de leitura que eu tenho.
                − Considere-se com sorte, ela me pegou com um deles e me fez queimar. Eu disse que o achei no sótão e ela perguntou se era só aquele. No que eu prontamente respondi que sim.
                − Obrigada.
                − Sade é a pior literatura que uma donzela poderia ter acesso.  Mas ele ensina melhor que os criados. - Ambas riram da comparação. Uma das travessuras das meninas era observar os criados enquanto eles pensavam que elas estavam dormindo.
               Eugênia serviu-se de vinho e deu uma taça na mão da prima.
                − Beba. Isso irá ajudar-lhe com esse rubor.
                − Mas tia Maria disse para não bebermos.
                − Mamãe diz isso todas as vezes. Mas ela nunca me repreendeu por beber um pouco, e além do mais é carnaval.
                 E transitaram pela festa, dançando e se divertindo.


                Joseph observava, entediado,  os seios de uma mulher ruiva que tentava descaradamente levá-lo para um canto. Ele estava entediado. Nenhuma mulher conseguia reascender nele o antigo fogo. Tudo praga daquela italiana de nariz arrebitado. Liana, a cortesã mais famosa de toda a Toscana. Sua fama chegava a Paris, Roma, França... E o Rei Humberto o avisara que não era ele quem a escolheria, e sim ela, se sentisse atraída.  Mas ele dissera poder possuir qualquer cortesã no mundo e aprendera que Liana De Vernón era a teimosia em pessoa, e isso a tornava ainda mais interessante.
                Por meses, cortejara-a pensando que estava sendo correspondido, para descobrir que na verdade fora motivo de piada dela e de todos na corte. E ainda não perdoara o Rei Humberto de todo por ter participado disso. Mas ele tentara lhe avisar, isso tentara. Fora ele quem não dera ouvidos, mas Liana continuava sendo pra ele uma incógnita e nada lhe tirava da cabeça que ela usara de algum tipo de magia para conquistar-lhe a alma e fazer-lhe prisioneiro de sua luxúria para não ser satisfeito.  A ruiva parecia interessada, mas ele não estava predisposto a querer.
                Olhou para o lado quando achou que estava sendo observado. De relance pensou ter visto novamente a garota da janela. Mas logo descartou a possibilidade, achou que estava enlouquecendo. Num grupo de umas treze meninas quase todas estavam olhando para ele, mas só Deus sabia o quanto ele queria se ver livre desse tipo de mulher. Esse era o tipo de mulher que o colocaria em situações que o levaria ao altar, mas tinha só 28 anos. Jovem demais para se casar.


                Isabella desviou o olhar. Mas isso chamou atenção de uma das meninas no grupo delas.
                − Você não devia perder seu tempo. Ele corre de moças casadouras.
                − Talvez eu não seja uma delas. – respondeu ríspida.
                − Mamãe disse que só existe dois tipos de mulheres, as que são para casar e as cortesãs. – opinou uma segunda menina.
                − Claro que a Bella é pra casar, é que ela é filha de italianos, mas cresceu no novo mundo, então, não sabe muito dos nossos costumes. – a defendeu Eugênia.
                − Ouvi dizer que as mulheres do novo mundo não prestam. Elas fumam, bebem, usam calças e se comportam feito homens. A convivência com os índios selvagens as transformaram em libertinas. – arguiu a primeira.
                − Então é por isso que nossa estrangeira está com os olhos nele. Mas, ele não gosta de virgens, dizem que se uma mulher chora em sua cama que ele bate nela.
                Isabella saiu de perto daquele grupo. Não aguentaria um minuto a mais com aquela gente. Se era para conhecer pessoas assim, preferia sua clausura.
               Pegou um copo de vinho enquanto se dirigia a uma varanda aparentemente vazia. Sentou-se em um banco e foi consumindo toda a bebida que os garçons que passavam por lá trazia. Logo estava vendo borboletas. Não demorou para um rapaz cheirando a álcool se aproximar. Um horrível cheiro de queijo também o acompanhava. Isso estava causando náuseas no estomago de Isabella, ele lhe agarrou e tentava lhe beijar enquanto com a outra mão tentava enfiar em seus seios. Isabella tentou resistir e foi um alívio quando ele simplesmente saiu de cima dela. Na verdade, não saiu, foi retirado. Isabella se espantou ao ver o Duque de Albany retirar o rapaz da varanda.
                − Não deveria estar sozinha aqui –  falou ríspido – onde estão suas amigas?
                − Eu as deixei há uma hora atrás. Elas falam muito, fazem um barulho infernal em minha cabeça.
                Albany não conteve o riso,  isso fez com que Isabella corasse e pedisse desculpa. Com um movimento de cabeça ela tentou passar por ele para dentro do salão.
                − Não vai me agradecer? – perguntou ele barrando a entrada.
                − Obrigada.
                − Não é assim que me agradece. Observei você hoje no salão com suas amigas, você estava me olhando. E eu não pude deixar de ver sua boca...
                Com um impulso ele a segurou e a beijou. Aquilo mexeu com todos os sentidos de Isabella já embotados pelo álcool.
                − Me diga seu nome princesa, e com quem eu irei duelar pela manhã...
                − Me chamo Bella, mas creio que nenhum duelo será travado pela manhã Senhor.
                − Isso veremos com o passar da noite.
                Num impulso o duque pegou-a pela mão e a levou para o salão. Dançaram. Isabella não soube definir quanto tempo estava ali nos braços do duque. Ele a mantinha embriagada, sempre deixando seu copo cheio. E ela tinha que admitir que estava gostando de ambas as sensações. Assentiu para algo que ele lhe disse ao ouvido, assentiria a qualquer coisa que ele lhe dissesse.
              Não percebeu para onde estava indo até estar num coche. Ela não se lembrava de onde ele disse que iriam, mas se lembrava claramente de ele dizer que a entregaria em segurança. Seus sentidos começaram a afrouxar a medida que ele a beijava. Não percebeu quando chegaram e nem onde estavam.
               Não havia mais música. Mas não importava. O quarto e a porta se trancaram. Ele retirara a camisa e jamais vira um homem tão lindo nem em sonhos. Agora ele a despia. Lembrou-se da prima a alertando sobre homens que enfiavam as mãos por baixo das saias, mas não ela decididamente não falara nada sobre ser despida.
                  As sensações se misturavam em seu âmago enquanto ele a acariciava ora com as mãos, ora com beijos.
                − Et ... que rien ni personne n'est plus important que nous-mêmes. Et nous ne devons pas nous priver du plaisir, aucune expérience, aucune satisfaction, nous présenter des excuses à la morale, la religion ou les coutumes. – citou ela relembrando Sade.
                − Sade? Portanto ...e que nada nem ninguém é mais importante do que nós próprios. E não devemos negar-nos nenhum prazer, nenhuma experiência, nenhuma satisfação, desculpando-nos com a moral, a religião ou os costumes?
                − Assim é. Você é meu anjo sem asas, um caído.
                − E você doce Bella. Minha razão de cair.
                Aquilo foi o ápice da loucura. Isabella só percebeu onde chegara quando uma dor aguda jamais sentida despontou em seu ventre, fazendo-a sentir algo se rasgando dentro dela. O efeito alcoólico misteriosamente sumiu. E ela percebeu que fora longe demais. Logo a dor passou dando espaço para novas sensações. Sabia agora que não tinha volta. Quando o duque saiu de cima dela notou as marcas no lençol e no meio de suas pernas. Sua virtude fora jogada fora, todas as suas chances de ser uma respeitável mulher casada foram jogadas no buraco. Ela olhou para o rosto enfurecido de um anjo com feições do demônio, e abaixou a cabeça.
                − Se você chorar juro que não respondo por mim. – gritou ele
                Isabella levantou a cabeça e olhou-o nos olhos, por mais que estivesse partida no meio nenhuma lágrima saiu de seu olho.
                − Porque iria eu chorar? Se quer me bater faça-o , mas não use de desculpas para tanto.
                − Eu jamais levantei a mão para uma mulher sequer em toda minha vida.
                − Não foi o que ouvi, na verdade saí de perto de minha prima e suas amigas exatamente porque elas falaram que era de seu costume bater em virgens que choravam após o ato. Se bem que Sade descreve isso como prazeroso em muitas situações.
                − Que tipo de virgem recita Sade? Que tipo de mulher é você?
                − Sou como todas as outras, e se não se importa agora, devo voltar, antes que alguém note minha ausência.
                − São cinco da manhã. Alguém provavelmente já notou sua ausência.
                Isabella não medira seus atos. Puxou os cabelos soltos de forma a esses taparem seus seios, mas não percebeu que estava completamente nua. Andando nervosamente de um lado para o outro, ela mais do que chamou a atenção sobre si. Em um minuto o duque a agarrou novamente puxando-a para a cama. Ali perdidos ficaram até ela adormecer.
A manhã transcorreu e a tarde chegou, Isabella continuava dormindo ali, nos braços do Duque de Albany. Uma ideia transcorreu na cabeça de Joseph: aquela mulher nascera pra ser sua, e seria. Tomaria providências para que a garota em seus braços fosse a futura Duquesa de Albany, não sabia nada sobre ela, mas ele mesmo era um cachorro sem pedigree e agora se tornara o duque. No mínimo ela era a parente pobre de alguma família nobre, aliás estava na casa de Joana, onde somente a nata da sociedade Italiana frequentava.
O problema seria se ela fosse filha de algum nobre. Por isso, então, a levaria para a Inglaterra e se casariam. Depois voltariam, com ela sendo sua duquesa e ninguém poderia fazer nada com ele. Iria mandar preparar as malas...

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