16 fevereiro 2013

O Sonho de Isabella - Capítulo 1


O Sonho de Isabella


Itália meados de 1880

A chuva caía fria naquela segunda feira. Isabella olhava a janela de seu quarto. A treliça lhe permitia ver sem ser vista. Em plena tarde pessoas vestidas de todas as cores passeavam pelas ruas de Veneza. Isabella fora levada pra lá há dois dias. Não conhecia a cidade. Não conhecia nada além de seus aposentos e os jardins da casa de seus tios Lorenzo e Maria.
O primo há muito partira e nunca mais dele se ouvira falar. Havia boatos que se casara com uma francesa. Sua tia a criara como filha, mas não ousara desobedecer às ordens de sua mãe.
Isabella jamais poderia deixar a casa, aparecer  em público, nada. Sua vida era reclusa e se resumia a nada. Observou mais um pouco e fechou a janela. Chamou sua prima Eugênia para lhe fazer companhia.
− Bella!! Estou tão empolgada para hoje a noite.
− Posso ver. Esse é seu segundo carnaval, mas é o primeiro em Veneza, não?
− Sim e estou tão feliz.
A empolgação da prima a fazia sonhar cada vez mais com uma chance de ter uma vida normal, poder flertar. Eugenia tinha apenas dezesseis anos e já beijara vários rapazes. O tio em breve arrumaria um marido para ela. Isabella já estava com quase vinte e nunca sequer vira um homem que não fosse seu tio ou um dos criados. Tivera uma paixonite com o filho do jardineiro quando estava com quatorze, mas seu tio tratara de matar os sonhos dela e do rapaz. Passara então a ser vigiada com mais afinco. Saindo do devaneio abriu a janela e chamou a prima.
− Olhe os foliões, tudo tão lindo.
− Bella, olhe aquele ali, acha que ele está nos vendo?
− Onde?
− Ao lado daquele vestido de bobo da corte, o que está sem máscaras, ele parece olhar nossa janela.
Entrando no recinto tia Maria olhou também.
− Vocês não deveriam estar aqui, e não deveriam estar olhando pela janela. Principalmente para aquele homem – repreendeu a tia fechando a veneziana.
− Quem é ele mãe? – perguntou Eugenia curiosa.
− É um inglês. Duque de Albany, não me lembro o nome dele. A mãe era Italiana, de Borgonha. Ele tem terras e diversos negócios em toda a Itália. Dizem que matou os dois irmãos para conseguir o ducado. É um filho bastardo que foi reconhecido pelo pai depois que este já tinha seus herdeiros legítimos. Misteriosamente, após isso, os dois irmãos morreram. Ele foi nomeado herdeiro mas não é aceito nas altas rodas londrinas, então ele diz que prefere a Itália, – suspirou − também preferiria se fosse ele.
− Coitado. – disse Isabella com ar desconsolado.
− Coitado?! – enfatizou a tia – ele é problema. Onde vossa majestade o Rei Humberto está, ele está atrás. São amigos pessoais. Ele cheira a problema. Fiquem longe dele.
− Como eu nunca saio dessas quatro paredes, acho pouco provável que chegarei perto o suficiente para ter que manter a distância – ironizou Isabella.
− Não dessa vez. Você vai ao baile de máscaras essa noite. Sua mãe mandou vestidos e acessórios. Ela não estará presente, mas pediu pra eu apresentá-la como uma parenta distante que perdeu a família e tem um dote. Parece que sua mãe quer vê-la casada.
− Desde que eu não apareça como filha dela.
− Sua mãe é uma cortesã. O que você esperaria? Ela sempre protegeu você de tudo e de todos. Ela poderia tê-la mandado a um convento, mas não o fez.
− Pensei que não a suportasse, tia.
− Pensou certo. Mas não tiro o mérito dela como mãe. Foi difícil não deixar ninguém saber de sua existência, você ficaria para sempre marcada. Bem, vistam-se. Estejam prontas as oito. Não tolero atrasos.
Sua tia saiu do quarto fazendo com que Isabella corresse para a janela, mas o homem não estava mais lá. Sentou-se na cama confusa. Por que isso agora?
− Eugênia – chamou.
− Sim?
− Já viu um anjo?
           − Você perdeu o juízo? Anjos ficam no céu, nós não os vemos.          
           − Não sei. Queria que um anjo aparecesse para mim.
           − Você lê demais, isto sim. Precisa parar de ler um pouco e tomar mais ar fresco. 
           Mas Isabella continuou olhando a bagunça da rua. Estava perdida no pensamento de um homem de olhos negros.


            Joseph Hatfield olhou para seu amigo Giovanni e perguntou:
            − Quem é a garota atrás da treliça?
            − Não vi. Aliás como você viu por trás da treliça?
            − Não sei. Só perguntei. Parecia exótica, com grandes olhos claros e uma perfeita boca vermelha.
            − Você está bêbado. Essa mulher provavelmente não existe. Vamos voltar pra farra que ainda temos que nos apresentar à festa na casa de Joana.
            − Não quero ir.
            − Humberto se sentirá ofendido se não formos.
            − Tem razão, tenho que ir. Vamos, então.
            Olhando mais uma vez pela na janela, o Duque de Albany partiu.

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