23 dezembro 2012

Encontro Inesperado - capítulo XV



 Senti um baque surdo dentro de mim, as palavras dele me assustaram. E fiquei com medo do que ele poderia aprontar dali pra frente.

- Linda, sei que temos diferenças, sei que minha mãe te magoou, hoje sei o quanto minha atitude no passado te magoou, mas eu não quero mais brigar. Não tenho mais forças pra isto.

Sei que você olha pra mim como um caçador e um homem de negócios – frio e calculistas. E até às vezes sou mesmo, devo admitir. Mas tem algo que precisa entender, eu amo Sophia e mudaria o mundo por ela. Na verdade estou mudando meu mundo por ela. E, sinto te informar, o seu também.

- Como... como assim? - Fiquei preocupada, com receio do que ele poderia estar aprontando.

- Calma, eu sei que você anda agoniada pensando em duzentas mil possíveis coisas que eu poderia fazer.

Como disse não pretendo me separar dela ou ela de você. Mas não posso permitir que continuem morando naquele apartamento. Ele é confortável e tudo mais, mas não quero mesmo, pois ele não tem segurança alguma para proteger a Sophia. Você sabe que ela entrou na mídia, um prato feito para bandidos e inimigos. E tenho que protegê-la, é o meu dever de pai.

- E o que você está pensando fazer?

- Ela vai morar na minha casa. E você também. Você poderá ir como desejar, mas queria... – ele parou e respirou, ficou me olhando, analisando e eu sabia que o que viria depois seria difícil pra eu digerir.

- Quero que venha morar na minha casa como minha mulher, quero que case comigo.

- Como... como é que é? – Minha voz parecia um som engasgado, só sabia repetir isso? O que ele queria como tudo isto? Me matar do coração? Não tinha mais forças pra lutar com ele.

- Eu quero paz, paz na nossa vida. Paz para a Sophia, paz para nós. Somente não quero mais brigas, discussões, viver essa incerteza do amanhã com relação a ela. Eu não quero te obrigar, não quero que se sacrifique mais, mas não posso permitir que as coisas continuem como estavam. Tem muito mais do que meus sentimentos e os teus agora em jogo.

- Que proposta mais absurda! Você tem ideia do que me pede? Ficar ao teu lado ao mesmo tempo sendo só? Sem possibilidades de arrumar alguém, de ser feliz de novo?

- Te proponho a construir uma vida comigo. Há amor entre nós? Não, somente o que nutrimos pela Sophia e isto pra mim é o que me basta. Ela é tão importante para mim que sem pensar duas vezes terminei o namoro que mantinha há 2 anos. Sabe por que ela é tão importante pra mim?

- Não. Não sei nada sobre você. Na verdade sei apenas o que sai na mídia de vez em quando.

- Vou te contar algo sobre minha família, é meio que um segredo nosso. Minha família evita tocar no assunto porque sofri muito no passado por causa disto.

Sentei no sofá, e ele sentou ao meu lado. Segurou minhas mãos em quanto falava, brincava com meu anel de forma distraída, era visível que escolhia as palavras para me contar.

- Minha mãe é de origem humilde, bem pobre. Ela mal conseguiu concluir o curso de normalista. Começou a dar aulas em escolas públicas pra poder se manter, já que mina avó tinha 5 filhos e os sustentava como lavadeira.

Só que minha mãe também sempre desejou a riqueza, o ouro, a fortuna, o dinheiro. E não perdeu a oportunidade quando conheceu meu pai.

Um homem rico, sem escrúpulos, dono de negócios duvidosos, de gênio forte, mas extremamente controlado. Apesar do medo que eu nutria por ele, nunca o via levantar mão para mim ou para minha mãe. Mas era obrigado a ouvir com frequência que ele tirou minha mãe da sarjeta.

Depois de anos de brigas e discussões, ela resolveu voltar a estudar, montou o próprio negócio e começou a enfrentar meu pai. Eram brigas e mais brigas dentro de casa, praticamente não tinha paz.

Eu cresci largado, primeiro criado pela babá, depois no colégio interno que foi um inferno pra mim. Não raro quando voltava pra casa, as brigas me faziam desejar voltar pro colégio e lá ficar.

Por outro lado, não sei quantas vezes nas festas de fim de ano fui esquecido em algum canto da casa, esperando por um carinho, um abraço, um pingo de atenção. Só que as visitas sempre eram mais importantes que eu aos olhos de minha mãe, que sempre transformava estas ocasiões em reuniões de negócios e estrelismos.

Aos 17 decidi fugir de casa com minha primeira namorada. Vivemos momentos lindos e intensos. Até que ela descobriu que estava grávida, correndo risco de perder o bebê e eu trabalhando como frentista num posto de beira de estrada no interior do país.

Desesperado, liguei pra minha mãe, e tive que engolir o orgulho ao ouvir que me aceitava de volta, mas sem a garota ou o filho – que era nova demais pra ser avó!

Contra a vontade dela, voltei pra casa com a garota e nossa vida foi inferno por uns 3 meses seguidos. Até que no meio de uma discussão com minha mãe, minha namorada passou mal, caiu da escada, perdeu a consciência e veio a falecer no hospital.

- Nossa, Alessandro, eu não fazia ideia, eu...

- Sem problemas, como disse este é um assunto que não me orgulho nem um pouco. Mas por conta disto, fiquei arrasado e me fechei. Deixei meu pai resolvendo todo os problemas com relação ao trágico acidente. E comecei a trabalhar e estudar. Fazia de tudo pra não pensar naquela garota e naquela criança.

Bem, você sabe, o tempo se encarregou de fechar algumas feridas e me tornou como você e muitos pensam ao meu respeito: duro, fechado e um caçador. De fato sou um tanto assim, admito, mas também sou um homem que viveu os últimos 23 anos a espera de colocar um filho em meus braços.

- Quando entrei neste quarto e vi Sophia, me vi nela, e me vi sento pai depois de tantos anos. Te contei isto, não para que sinta pena de mim, não preciso disto. Mas para que entenda que quando você me contou da Sophia, o lado prático entrou em ação. Mas quando eu a vi, eu me vi nela, me vi nos olhos dela. E me apaixonei e me senti pai, vivo de novo.

Não quero que ela passe por um terço do que passei. Por isto te propus casamento. Quero que ela tenha paz, tenha uma família. E prometo uma coisa a você, vou sempre te respeitar, e do meu jeito aprenderei a te amar. O que você acha? Podemos dar a ela tudo que sempre eu desejei ter e não tive: amor, carinho, família?

Fiquei olhando pra ele, minhas mãos em suas mãos, ouvia a respiração de Sophia correndo solta e tranquila, sentia que a vida estava me dando uma nova oportunidade. E mesmo sem ser amada, sabia que eu podia tentar.

- Ai Alessandro! Deveria dizer não. Negar isto a você, seria negar isto a ela também.  Provavelmente vou me arrepender amanhã ou depois, mas sim, eu te digo sim... mas tem uma condição.

- Qual?

- Outros envolvimentos – teus ou meus – deverão ser em segredo pra que ela não sofra.

- Impossível. Minha mãe tem vários defeitos, mas uma qualidade que me ensinou e transferiu: fidelidade. Você será somente minha e eu somente seu, mesmo que venhamos a dormir em quartos separados. Pode ser assim?

- Vou me arrepender amanhã ou depois; mas cansada, carente e preocupada com o futuro: sim, aceito seus termos – com quartos separados e aliança no dedo.

- Aliança, bolo, festa e papel assinado; terá tudo isto e ainda será a dona da minha casa. – Falou e abriu o sorriso como que querendo pedir paz.

Não pude negar a paz que ele propunha e que eu sabia que era o que minha filha tanto desejava. Eu sabia que a dor e o sacrifício que teria que fazer seriam enormes, mas estava disposta a tentar a ter paz daquele momento em dia. Mas seria mesmo assim?

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